Há uma buganvília de ramos muito fortes a crescer na janela
de minha casa. De manhã, abre em juba e estala em violeta com a luz.
Era uma vez a menina Julieta que tinha a mania de
falar sozinha. Brincava tanto, tanto, que os dias só chegavam ao fim no fundo
da sua cama. Talvez por dia a dia cirandar, Julieta ficava toda avermelhada de
tanta correria e com os olhos vivaços até anoitecer. Havia vezes, que quase adormecia
em pé até porque não gostava nada de dormir.
Só na chuva, pasmava. Molhava o corpo todo e fugia.
A chuva - é nela que o corpo da gente se perde e ganha rapidez – e Julieta
transbordava na chuva. O cheiro da terra fazia-lhe comichão nas narinas e dava muitas
gargalhadas pegadas umas às outras.
Esta manhã, Julieta acordou muito cedo. Tinha a
cara áspera e vagarosa. Esfregou-lhe as mãos e depois soprou-as: assobiou… E espantou os gatos que estavam espalhados em
estendal pela rua. Espalhados de
encontro à chuva, esquisitos na rua àquela hora, com tanta chuva a cair, as patas
aninhavam entre as pedras molhadas. É que os gatos não gostam de chuva. Encolhem-se
em silêncio bigodes dentro.
Julieta encostou o ouvido à chuva que batia contra
a rua e o chão a gotejar. Chover, demora, é durante um dia inteiro. Julieta
queria contar as gotas da chuva todas mas nunca conseguia passar das da janela de
vidro. E as gotas não paravam nunca. Parecia que, assim, vigiadas por ela,
cresciam ainda mais. Sentada nos joelhos, partiu então para parte incerta. Ora,
bolas! Fugiu dali e foi bailar com a chuva.
Cristina Néry
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