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segunda-feira, 11 de maio de 2009

O assobio da cobra



.Para a Margarida-menina,
que na distância ditou a história ao ouvido-meu.



Quando o sol que traz luz ao dia não se mostra e resolve descansar, apareceu uma cobra.
Uma cobra tem a forma de uma escama de peixe gigante, é cor de água e tem uma língua avermelhadamente afiada que faz o barulho de um guizo.
A cobra Esmeralda-Esmeraldina deita a língua de fora e saliva entre as flores porque queria poder falar. Mas, tem a voz invisível. Então, em espiral, sobe aos troncos de todas as árvores, de cabeça pequenina e em segundos.
A cobra Esmeralda-Esmeraldina gosta dos segundos do tempo e chega sempre a horas. Sem sequer se anunciar, arrasta-se por labirintos sem fim. Vive na areia como raiz silenciosa mas passa a vida a viajar, luas e luas, sem parar: mexe o corpo de seda ao som do ar.
Entre os dias, cresce de noite e vira do avesso o tempo. Vê no escuro e assobia:

          nas sombras que a noite deita
redonda, ao olho da lua
vaidosa rasteja a cobra
               para descobrir onde o sol amua.

Cristina Néry

A contadora de histórias

acontece uma historia
se regresso à minha floresta sem sapatos
ponho as mãos nos olhos
e numa chávena giratória
vou até ao andar debaixo.
lá vive uma aranha de teia longa e macia,  
que de vez em quando pinta as bochechas 
e vestido de mangas compridas 
para subir aos cantos dos telhados.

assim se faz a escrita - os dedos página afora.