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sábado, 27 de junho de 2009

O menino azarento

Era uma vez um menino azarento que tinha um cavalo mágico. Quando os joelhos dobravam em cima do cavalo, cresciam à sua frente degraus mágicos até à altura dos olhos. O sol uma aranha que se mexia e atacava as mãos. Nem com a força do polegar conseguia tapar-lhe os raios. Queimavam em festa de luz. Era uma vez a espada, pesada, mas com ela ganhava um coração de pedra e o tamanho dos lobos vadios. Hoje, tinha acordado triste, zangado, conseguia ouvir o vento a soprar, sem medo. A música era bonita. Arrastou as mãos com a espada no ar e era perfeito: bateu os pés para os sacudir, para rasar as arvorezinhas redondas em baixo e, às portas do sono, encontrou a terra. Encarnada e quente. Tinha o capacete picado pelas garras dos castelos e pelo hálito dos dragões que abrira com a espada em faíscas. Seguira-lhes o rasto e a voz forte, grossa e rouca. No cavalo, atravessou o perfume sagrado da terra e encontrou a tempestade. Juntou-se a ela, mergulhou fundo e despenhou-se na floresta. Acordou, atordoado, com as pestanas empoeiradas cercou tudo à volta e viu o tempo-inteiro-mundo... e o corpo a fumegar. Tinha chegado cedo. Despiu a armadura como se o próprio corpo, largando a espada pesada. Estava a amanhecer. E o coração mexeu-se, de cansado.