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segunda-feira, 6 de julho de 2009

A besta em botão


Depois de um garfo prateado e fresco, as mãos estavam suadas e aproximavam-se.
O fato apertado e justo à medida dos botões de punho amarelos
e o peito forte e farto, em juba.
Ficou com um guardanapo para se limpar.
Sopro a sopro uma rosa vermelha.
Era.


Rita Grácio e Cristina Néry em reescritas

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Perigo a bombordo! Procuram-se piratas e piratarias!

        No âmbito de mais uma edição da Feira do Livro que se irá realizar nos próximos dias 1, 2 e 3 de Julhono Jardim de Infância de Travanca de Bodiosa, Agrupamento de Escolas de Abraveses, estará presente no dia 2, pelas 10h, a poeta Cristina Néry, autora da história "O pirata que dormia de dia", do livro a publicar As histórias do céu da bocaestando prevista a dinamização de algumas actividades com o grupo de crianças e a visita da cobra Esmeralda Esmeraldina, que acompanha a poeta.

"Dezassete piratas ho-ho-ho  
 e várias garrafas de rum!
  dançam e pulam nas ondas
  sem ir a lugar nenhum!"
Tripulação: Ana Maria Leite (Capitã);   Beatriz (2ª. Capitã); Dalila Sofia (Mestra do Navio)

Imediat@sTelmo / Daniel / Gonçalo /André Luís/Bernardo/Simão/Tiago André/Tiago Marques/Tiago Albuquerque/Sofia (Mulher de Armas)/Zé Gonçalo/Miguel/Ana Rita/Sofia Alexandra/Lucas/Miguel Maurício


Criadas-de-bordo:Teresa (criada-chefe) / Paula / Lena

Outr@s Crusoes: Jeremias, @ pirata que dormia de dia

Este é o livrinho-objecto e o fantoche Jeremias elaborado pel@s menin@s do Jardim de Infância de Bodiosa, a partir da história "O pirata que dormia de dia" (02_07_09)

















artesãs-mestres: Ana Maria Leite e Teresa


e este um poema da poeta à tripulação: 
dezassete tripulantes a bordo e um mapa desdobrado
cabelos desgrenhados e navio vivo para todo-o-lado
um barulho agudo e ríspido
barbas sujas
e as tábuas rijas por baixo dos pés
assobiadela aberta, de queixos bicudos
piratas dos mares, às velas, respirar!
acende e apaga a lâmpada,
à proa, que é hora de zarpar!

cristina néry



sábado, 27 de junho de 2009

O menino azarento

Era uma vez um menino azarento que tinha um cavalo mágico. Quando os joelhos dobravam em cima do cavalo, cresciam à sua frente degraus mágicos até à altura dos olhos. O sol uma aranha que se mexia e atacava as mãos. Nem com a força do polegar conseguia tapar-lhe os raios. Queimavam em festa de luz. Era uma vez a espada, pesada, mas com ela ganhava um coração de pedra e o tamanho dos lobos vadios. Hoje, tinha acordado triste, zangado, conseguia ouvir o vento a soprar, sem medo. A música era bonita. Arrastou as mãos com a espada no ar e era perfeito: bateu os pés para os sacudir, para rasar as arvorezinhas redondas em baixo e, às portas do sono, encontrou a terra. Encarnada e quente. Tinha o capacete picado pelas garras dos castelos e pelo hálito dos dragões que abrira com a espada em faíscas. Seguira-lhes o rasto e a voz forte, grossa e rouca. No cavalo, atravessou o perfume sagrado da terra e encontrou a tempestade. Juntou-se a ela, mergulhou fundo e despenhou-se na floresta. Acordou, atordoado, com as pestanas empoeiradas cercou tudo à volta e viu o tempo-inteiro-mundo... e o corpo a fumegar. Tinha chegado cedo. Despiu a armadura como se o próprio corpo, largando a espada pesada. Estava a amanhecer. E o coração mexeu-se, de cansado.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O assobio da cobra



.Para a Margarida-menina,
que na distância ditou a história ao ouvido-meu.



Quando o sol que traz luz ao dia não se mostra e resolve descansar, apareceu uma cobra.
Uma cobra tem a forma de uma escama de peixe gigante, é cor de água e tem uma língua avermelhadamente afiada que faz o barulho de um guizo.
A cobra Esmeralda-Esmeraldina deita a língua de fora e saliva entre as flores porque queria poder falar. Mas, tem a voz invisível. Então, em espiral, sobe aos troncos de todas as árvores, de cabeça pequenina e em segundos.
A cobra Esmeralda-Esmeraldina gosta dos segundos do tempo e chega sempre a horas. Sem sequer se anunciar, arrasta-se por labirintos sem fim. Vive na areia como raiz silenciosa mas passa a vida a viajar, luas e luas, sem parar: mexe o corpo de seda ao som do ar.
Entre os dias, cresce de noite e vira do avesso o tempo. Vê no escuro e assobia:

          nas sombras que a noite deita
redonda, ao olho da lua
vaidosa rasteja a cobra
               para descobrir onde o sol amua.

Cristina Néry

A contadora de histórias

acontece uma historia
se regresso à minha floresta sem sapatos
ponho as mãos nos olhos
e numa chávena giratória
vou até ao andar debaixo.
lá vive uma aranha de teia longa e macia,  
que de vez em quando pinta as bochechas 
e vestido de mangas compridas 
para subir aos cantos dos telhados.

assim se faz a escrita - os dedos página afora.